A avaliação das aprendizagens não é um monstro
Avaliação das aprendizagens
A avaliação é um instrumento transformador, não um monstro de que se deve ter medo.
Ao pensarmos na avaliação, já não pensamos só no momento final de um ciclo que nos indica se estamos aprovados ou reprovados. E com a avaliação das aprendizagens não é diferente.
A avaliação passa a ser vista como instrumento e não como um momento, transformador e não indicador e final. Assim, passamos a vê-la como um meio e não como um fim, como forma de participação e envolvência de todos os intervenientes, considerando o erro como indicador de caminhos e não como rótulo das aprendizagens não adquiridas, e considerando novos instrumentos, por exemplo, o portefólio para avaliação coparticipada e como elemento de autorregulação no desenvolvimento de competências.
Analisemos cada um destes aspetos, tendo presente o novo conceito de competência e os quatro pilares da educação de Delors, aprender a conhecer, aprender a fazer, aprender a viver juntos e aprender a ser (Malheiro e Cabral).
A avaliação como um meio e não como um fim do processo de ensino aprendizagem
Com as funções pedagógicas de segurança, assistência, diálogo, feedback, reforço, correção, bem como as dimensões pessoal, didática, curricular e educativa de Pacheco (1994, por Rosado e Silva), percebemos que a avaliação é mais do que um momento, passando a ser um instrumento utilizado em vários momentos de forma a recolher sistematicamente informações e analisá-las. Não é um mero instrumento, mas sim um instrumento transformador pois permite orientar decisões para as futuras práticas docentes, para o desempenho dos alunos e para o funcionamento da própria escola (Cardinet, 1993, por Rosado e Silva), daí a sua função reguladora do ensino-aprendizagem. Ao avaliar neste sentido, ao longo dos vários momentos de todo o processo ensino-aprendizagem, partimos para uma pedagogia diferenciada (DGIDC), caminhando para a avaliação de competências e saberes adquiridos ao longo da vida no sentido de uma avaliação como reflexão crítica sobre momentos e fatores da formação (Fontes).
Pensamos numa avaliação formativa e regular num ensino voltado para a aquisição de competências, que incluem conhecimentos (saber-saber), capacidades (saber-fazer) e atitudes (saber-ser). Com as mudanças do próprio ensino e seus destinatários (maior diversificação e número) é necessária uma avaliação que avalie competências e as práticas laborais, apoiando o processo educativo.
O erro como indicador de caminhos
Acrescenta-se também que como professores devemos tentar entender o aluno, o processo de aprendizagem e o assunto, para um melhor conhecimento do caminho a seguir, sendo assim o erro uma base de pesquisa. Segundo o modelo que toma a avaliação como um julgamento de especialistas, modelo pedagógico baseado numa abordagem sistémica, o erro do aluno é visto como uma oportunidade de aprendizagem (Pinto e Santos, 2006:31). O erro indica caminhos quando consideramos como prioridade da avaliação responder a problemas e questões que afetam os diversos atores (Pinto e Santos, 2006:35-37). Numa conceção formativa do erro, devemos encará-lo com um elemento de construção de conhecimentos, que reflete o que e como o aluno aprendeu determinado conteúdo. Desta forma, o aluno vai tentando atingir um objetivo construindo o seu próprio caminho, que inclui esses erros, pois são a sua reprodução do saber aprendido (Pinto e Santos, 2006:86-88). Na minha prática pedagógica valorizo o erro para perceber qual a situação do aluno, como encara os novos conteúdos e até mesmo a metodologia utilizada por mim, no sentido de ensino diferenciado e adaptado a cada um como ser único e com características próprias.
A avaliação como forma de participação e envolvência de todos os participantes
Cardinet (1993, por Rosado e Silva), compara a avaliação a um sistema de comunicação. Desta forma, podemos vê-la como um instrumento desse sistema comunicativo de recolha de informação e feedback de desempenhos, de quem ensina e de quem aprende. Com a avaliação formativa todos os intervenientes ficam informados sobre a qualidade do processo educativo, tomam consciência e podem analisar os seus trabalhos. Se falamos de participação e envolvência, pensamos também em auto e heteroavaliação, cujos intervenientes são professores, pais, encarregados de educação, alunos, outros professores e até serviços de apoio educativo (Rosado e Silva), numa avaliação como interação social complexa, baseada no construtivismo onde todos podem ter conhecimento de tudo (Pinto e Santos, 2006:12,41). Tanto professores, com a avaliação formadora, como os alunos, com a metacognição, estão envolvidos. Com esta nova noção de avaliação formativa, o professor partilha poderes com todos os outros intervenientes. Os alunos aprendem a viver em sociedade democrática, sabendo refletir, respeitar a opinião dos outros, bem como outros intervenientes aprendem a respeitar a sua, caminhando numa mesma direção em partilha interativa, sendo todo o processo discutido e analisado com o aluno.
O portefólio como instrumento válido de avaliação coparticipada
Poderíamos ver o portefólio como uma mera coleção de trabalhos, mas tal não seria uma boa utilização de um instrumento com tantas potencialidades para a educação, contemplando currículo, interesses do aluno e objetivos propostos pelo professor e escola. Este instrumento gera uma avaliação que é feita por todos os que lhe têm acesso, verificando esforços, melhorias, progressos e rendimentos dos autores dos trabalhos, de forma conjunta entre professor e aluno, permitindo assim tomar melhores decisões. Pensando ainda na avaliação formativa, avaliação dita alternativa, com o portefólio devemos ter uma avaliação mais reflexiva, participativa e contextualizada.
O portefólio como elemento de autorregulação no desenvolvimento de competências
Seria apenas uma coleção ou arquivo se o aluno não fosse levado a refletir sobre os seus próprios trabalhos. Ao verificar e refletir sobre o que vai produzindo, analisa as suas próprias competências. Para isto ser possível, o aluno deve saber exatamente o que é esperado, com uma boa planificação, para saber o que está em avaliação e sobre que aspetos precisa refletir, focalizando a sua atenção em conhecimentos, capacidades e atitudes que são espelhados pelo próprio portefólio, se bem construído e utilizado. Desta forma, poderá desenvolver a sua autonomia do processo de aprendizagem. Este instrumento segue uma lógica de que o aluno é o construtor do seu próprio conhecimento, inserido num contexto favorável a esta formação (Pinto e Santos, 2006:148).
Partindo desta reflexão, pensamos sobre uma avaliação como ação e não como um julgamento, mas que ainda não é aplicável em todos os contextos de formação e educação, pois as próprias práticas pedagógicas ainda estão em modificação, sendo também transformador a nível micro, meso e macro.
Bibliografia sobre avaliação
- Avaliação da formação, ppt – Disponibilizado pela Unidade Curricular Avaliação das Aprendizagens;
- Avaliação das Aprendizagens, ppt – Disponibilizado pela Unidade Curricular Avaliação das Aprendizagens;
- Rosado, A.; Silva, C.; Conceitos Básicos sobre Avaliação das Aprendizagens; – Disponibilizado pela Unidade Curricular Avaliação das Aprendizagens;
- Pinto, J., Santos, L. (2006) Modelos de Avaliação das Aprendizagens. Lisboa: Universidade Aberta;
- Avaliação na Educação Pré-Escolar – Disponibilizado pela Unidade Curricular Avaliação das Aprendizagens;
- Malheiro, S.; Cabral. P. O Conceito de Competência. Universidade Aberta – Disponibilizado pela Unidade Curricular Avaliação das Aprendizagens;
- Fontes, C. Avaliação na formação – Disponibilizado pela Unidade Curricular Avaliação das Aprendizagens;
- Allal, L., Cardinet J. et Perrenoud, Ph. (1986). À avaliação formativa num ensino diferenciado. Coimbra: Livraria Almedina.
Técnica Superior de Educação e Formação