Projeto de Investigação – recolha de dados
Os Projetos de Investigação, sobre os quais são muitos os detalhes a ter em conta, podem conter questionários, entrevistas ou outros instrumentos de recolha de dados, mas adaptados à situação em estudo. A título de exemplo, partilhamos a segunda parte de um Projeto de Investigação feito no âmbito da unidade curricular de Seminário de Investigação da Universidade Aberta, Licenciatura em Educação Minor em Pedagogia Social e da Formação, que teve como tema em estudo o “Abandono escolar em EAD como militar”, mais especificamente no teatro de operações do Kosovo em 2009.
Questão de Investigação
Quais os motivos que levam ao abandono escolar dos militares do 1º Batalhão de Infantaria Mecanizado do Exército Português em missão no estrangeiro que frequentam o Centro Naval de Ensino a Distância?
Contextualização e justificação da investigação
Tal como já foi referido, no artigo anterior referente ao mesmo tema, os militares estavam colocados em unidades operacionais em território nacional ou no estrangeiro, cujo local de trabalho se encontrava numa zona geográfica com horários escolares incompatíveis com as exigências profissionais ou sem escolas. Criou-se, assim, a oportunidade de finalizarem o Secundário através do Centro Naval de Ensino a Distância (CNED).
Surgiu assim uma investigação-ação, cuja questão reflete um “problema concreto localizado numa situação imediata”, por Cohen e Manion (1994: 192, referido por Bell, 2008: 20). A resolução da problemática não terminou com a investigação. Foi necessário acompanhar os alunos e o seu percurso escolar até ao término do ensino secundário no CNED. Apenas desta forma foram feitas alterações para que um maior número de alunos concluísse este nível de ensino com sucesso.
Bell (2008: 22) referiu que “a natureza prática da resolução de problemas de uma investigação-acção torna este tipo de abordagem atraente para os investigadores profissionais que tenham identificado um problema no decurso do seu trabalho, que queiram investigá-lo e, se possível, aperfeiçoar a sua acção.” Com a questão desta natureza, a minha intenção foi potencializar a formação de adultos neste contexto, sendo este muito específico, podendo ser considerado como um estudo de caso.
Sabendo que há um número considerável de desistências (Parte I da investigação), necessitamos de recolher dados para compreender as razões e assim responder à questão inicial. Para isso, utilizei os instrumentos e técnicas de recolha adequados ao contexto e à natureza da questão acima descritos, tornando-se pertinente o enquadramento metodológico da investigação.
Nesta Parte II do Projeto de Investigação, pretendi delinear as opções metodológicas adequadas.
Enquadramento metodológico do Projeto de Investigação
A população em estudo era composta por 57 militares do 1BIMec (inicialmente inscritos no CNED), sendo 56 da classe de praças e 1 da classe de sargentos, 5 femininos e 52 masculinos.
Com o objetivo de perceber quais as razões que levam ao abandono escolar, de forma a potencializar esta formação de adultos, utilizei uma triangulação metodológica, combinação de características metodológicas pertencentes ao paradigma qualitativo e paradigma quantitativo (Henriques, 2008: 4). O fenómeno social estudado, “motivos que levam ao abandono escolar”, origina predominância do paradigma qualitativo, com atributos metodológicos do paradigma quantitativo.
Para a recolha de informação foram feitos 2 questionários: um para militares desistentes (Anexo A), outro para militares ainda inscritos (Anexo B). As questões foram abertas e fechadas.
Numa primeira fase apliquei os questionários a uma pequena amostra aleatória simples, para verificar a sua fiabilidade e validade (Bell, 2008: 97).
O objetivo do questionário aos alunos que desistiram foi perceber o que os levou a tomar essa decisão. Com os questionários dos alunos que prosseguiram os estudos pretendi perceber quais as suas dificuldades e potenciais fatores de afastamento.
Na impossibilidade de realizar entrevistas antes de elaborar os questionários neste Projeto de Investigação, registei alguns comentários em contexto informal dos alunos relativos a este estudo. Alguns exemplos “Desisti porque sinto falta de um professor que me explique.”, “Estou com dificuldades em estudar, é muito prático, o estudo não é apenas através da leitura.”, “Vou começar pelo Inglês, tem mais exercícios práticos. Se começasse por Filosofia não iria conseguir estudar, é muito teórico e abstracto.”, “Ninguém me envia mensagem nem contacta, se calhar mais vale esperar até conseguir ir para um ensino presencial.”. As razões foram tidas em conta na construção dos questionários.
Também foram tidos em conta os tópicos identificados no enquadramento teórico: “interacção com mentores e pares, abordagens ao processo de aquisição de conhecimentos ou habilidades, pressupostos do adulto como aluno, estilos próprios de aprendizagem, experiência de aprendizagem, distância transaccional, factores para se tornarem alunos novamente.”
O Centro Naval de Ensino a Distância disponibilizou o questionário que era por eles aplicado aos alunos depois de desistirem, o qual adaptei com pequenas alterações.
De forma a enriquecer a recolha de dados, outro instrumento que utilizei foi a entrevista estruturada, aplicada apenas a uma amostra aleatória simples (Anexo C).
Desta forma, e como refere Henriques e outros autores (2008: 3, 4) sobre o paradigma qualitativo, pude compreender a conduta humana partindo do ponto de vista dos alunos, com base em dados reais e profundos. Pode não ser generalizável, pois depende do contexto em que o aluno está inserido. Foi tida em conta a realidade global da população, onde os indivíduos não são variáveis. A sensibilidade ao contexto (actos, palavras, gestos, etc.) foi predominante, onde o significado teve importância, bem como os quadros de referência e a perspectiva dos investigados. É flexível e descritivo, e as situações naturais, as próprias pessoas, foram fonte de informação.
A aplicação dos questionários efetuou-se em três tempos, no mês de Maio: 1º dia 7 – o questionário-piloto; 2º dia 13 – alunos desistentes; 3º dia 14 – alunos ainda inscritos. As entrevistas foram efetuadas no dia 17. Como nenhum aluno foi obrigado a colaborar nesta investigação, aconteceu que nem toda a população esteve presente. Isso foi tido em conta no tratamento e análise dos dados.
Nestes quatro momentos o local foi o próprio quartel, pois foi o mesmo para o investigador e os investigados, sem modificar a sua rotina diária. Ao utilizar a sala disponível para este tipo de atividades, foi possível a distribuição em mãos, sendo possível também a sua recolha imediata.
A recolha rigorosa de dados, parte integrante deste Projeto de Investigação, e consequente análise estatística, característico do método quantitativo, deu origem às conclusões da investigação ou hipóteses explicativas do fenómeno que se pretendia estudar. Desta forma, pude reunir um número extensivo de informação que deu origem à generalização à população em estudo. Henriques e outros autores (2008, 3, 4) referem este aspeto como vantagem do método quantitativo, que pretendi utilizar.
O tratamento de dados, tal como referido, foi feito através da análise estatística, com recurso à representação em tabelas e gráficos, sendo os dados qualitativos codificados com números. As entrevistas foram acompanhadas de grelhas para facilitar o registo de informação, para tratamento idêntico.
Bibliografia
- Bell, Judith (Março de 2008) Como realizar um Projecto de Investigação; Lisboa: Gradiva;
- Rurato, P. e Gouveia, L. e Gouveia, J. (2007). As características dos Aprendentes na Educação a Distância: Factores de Motivação. Revista da FCT. Nº 4, Universidade Fernando Pessoa, pp 80-92. ISSN: 166-0480., retirado de http://www2.ufp.pt/~lmbg/com/prurato_revfct07.pdf (acedido em 21 de Março de 2010)
- Henriques, Susana; Paradigmas Quantitativos e Qualitativos; Universidade Aberta; Adaptado de Carmo, Hermano; Ferreira, Manuela Malheiro (2008), Metodologia da Investigação;
- Questionário do CNED aplicado a alunos em situação de desistência, cedido pelo CNED em Março de 2010.
Autora da investigação “Abandono escolar em EAD como militar”