Educação a Distância – Diferentes Modelos, diferentes conceitos
Para melhor perceber o conceito de Ensino a Distância, torna-se necessário conhecer as diferentes perspectivas sobre a sua evolução ao longo das gerações, tendo em conta os intervenientes e outros aspectos e a sua relação: professor, estudante, tecnologias, interação e ambiente.
Uma das estratégias para aprofundar este conhecimento é o estudo dessas perspectivas e a comparação entre as mesmas, para perceber qual a diferença entre os diversos modelos e respectivas gerações.
Tem este ensaio o objetivo de identificar as diferenças entre os diferentes modelos tendo em conta os elementos referidos, segundo vários autores: Moore & Kearlsley (2007), Nipper (1989), Taylor (1995) e Moran (2005). A comparação será feita sobre as 2ª e 3ª gerações, pois evidenciam um dos elementos referidos, as tecnologias.
Diferentes perspectivas de Ensino a Distância
Os estádios de desenvolvimento da EaD evoluem em paralelo com a evolução das tecnologias, do clássico ao moderno. Independentemente do autor, este aspecto é unânime e é importante ter em consideração no início deste estudo, bem como o esquema 1.
Esquema 1 – Modelo de ensino/educação a distância
É importante diferenciar dois conceitos por vezes tomados como idênticos: Educação e Ensino. Segundo Moran (2005), o termo ensino dá ênfase ao professor, ao seu processo e não ao aluno ou à sua relação. O termo educação, é o processo de ensino-aprendizagem, onde tanto professor e alunos são intervenientes com papel central, e onde não só os conhecimentos são importantes, sendo-o também as atitudes, os valores e as posturas.
Outro conceito que se torna pertinente identificar é de distância transaccional. Esta distância não é física nem temporal, mas sim psicológica. É a distância que ocorre num espaço psicológico e comunicacional entre professor e alunos num ambiente que exerce uma grande influência na interacção entre eles.
Perspectiva de Moore & Kearsley (2007)
Segundo estes autores a 2ª geração de EaD, transmissão por rádio e televisão, consiste na utilização de programas de ensino, televisão educativa, sendo complementada por livros didácticos e guias de estudo.
A 3ª geração, universidades abertas, consiste na articulação das várias tecnologias para a produção de cursos a distância.
O autor acrescenta uma 4ª e 5ª geração, teleconferência e ensino online, respectivamente. Na primeira, existe transmissão de palestras e comunicações do professor para grupos distantes geograficamente, sendo possível uma comunicação bidireccional. A segunda caracteriza-se pela utilização da internet, com estudos, trabalhos e ferramentas de comunicação online.
Perspetiva de Nipper (1989)
A 2ª geração, geração multimédia, segundo este autor, consiste na utilização da escrita e outros média (rádio, televisão, vídeo e cassetes) para serem distribuídos aos estudantes como material de ensino. A comunicação entre professor-aluno passou a ser mais rápida.
A educação em rede, 3ª geração, contempla computadores em rede, utilizando correio electrónico e conferência via computador como meio de comunicação entre professor-aluno e interacção em grupo.
Perspetiva de Taylor (1995)
Os materiais educativos em vários formatos foram utilizados na 2ª geração, a geração multimédia, segundo este autor.
Com a tele-aprendizagem, 3ª geração, as TIC (tecnologias de informação e comunicação) estavam adaptadas com sistemas de áudio e videoconferência em grande escala (áudio e televisão).
O autor acrescenta uma 4ª geração, Modelo de aprendizagem flexível, caracterizada por maior diversidade de recursos, materiais interactivos e internet.
Perspetiva de Moran (2005)
Este autor não distingue taxativamente as gerações, mas evidencia uma evolução constante da EaD, onde a evolução das TIC alteram conceitos como interacção, ambiente (sala de aula), professor e aluno.
A interação é entre todos os envolvidos no processo, professor e aluno, apesar de estarem separados geográfica e temporalmente. Existe um intercâmbio maior de saberes.
O ambiente, com o conceito de sala de aula, passa a ser num tempo e espaço mais flexíveis, onde todos estão presentes em tempos e espaços diferentes, propício à pesquisa e ao intercâmbio. O professor, como interveniente, passa a ter um papel de supervisor, animador e incentivador. Pode ser mais presencial ou virtual, individual ou de partilha, dependendo de necessidades concretas, sendo os cursos adaptáveis.
Com os média unidireccionais a diminuir, passando a média mais interactiva com novas formas de interacção, dá-se também a transição do individual para o grupal.
A própria internet passa a audiovisual, com transmissão em tempo real (tecnologias streaming), sendo possível a interacção directamente proporcional ao número de pessoas envolvidas, quer sejam professores ou alunos.
As propostas pedagógicas passam a ser mais inovadoras, com adaptação ao ritmo pessoal, em níveis diferenciados de visão pedagógica.
A educação a distância, para o mesmo autor é o processo de ensino-aprendizagem mediado por tecnologias, onde professor e alunos estão separados espacial e /ou temporalmente.
Diferentes Modelos
Como se verifica, com a leitura das diferentes perspectivas, a tecnologia está cada vez mais presente tanto no modelo de Ensino a Distância como no modelo de Educação a Distância.
Poderemos afirmar que a 2ª geração, tendo um aumento de mediação pelas tecnologias, onde o professor/tutor disponibiliza materiais de estudos aos estudantes, identifica-se mais com um modelo de Ensino a Distância. Como foi referido anteriormente, este processo centra-se mais no professor, que prepara o material e os meios para os alunos e define a interacção entre ambos. O ambiente depende mais do professor do que do aluno, que reúne a informação, só aí se dando a aprendizagem. A interacção entre ambos tem uma grande distância transaccional.
Com os mesmos elementos mas com relações diferentes, identifico uma 3ª geração, modelo de Educação a Distância. Professor e aluno têm papel central, deixando de ser apenas ensino mas ensino-aprendizagem. Esta geração utiliza as tecnologias para diminuir a distância transaccional, criando espaços e tempos de interacção onde o ambiente é propício à educação, com adaptada estruturação do programa, espaços para diálogo e autonomia necessária do aluno.
Professor e aluno têm o seu papel consoante a abordagem seja instrucionista (construtivismo ou instrutivismo) ou colaborativa.
A diferença entre visão instrucionista e visão colaborativa é que a primeira se apoia na aprendizagem autodirigida controlada pelo aprendente, com tarefas, actividades, projectos individuais. O professor é visto como treinador e o estudante deve ter maturidade suficiente para decidir se avança ou não, como gere o tempo, individualmente. Com a teoria instrutivista (Behaviorismo) desta abordagem, a aprendizagem é moldada pelo meio. O ensino melhora as condições externas para aperfeiçoar as reacções dos aprendentes. A aprendizagem é vista como progressão linear do conhecimento, declarativo e processual. O aluno aprende a informação teórica e adquire rotinas através da prática. O professor é como modelo e perito, que controla as formas de ensino (tutoriais, exercícios de repetição). Pelos aspectos expostos, associo esta abordagem ao Modelo de Ensino a Distância de 2ª geração.
O construtivismo, teoria também da abordagem instrucionista, é de tradição cognitiva e perspectiva interaccionista sociopsicológica. A aprendizagem é vista como mudança de significado construída a partir da experiência do aluno, com a construção de novas ideias. A preocupação é a aprendizagem e a construção do processo de aprendizagem. A discussão e a colaboração entre alunos são o método utilizado. O professor é visto como facilitador e arquitecto do processo de aprendizagem. A avaliação é contínua, sobre experiências activas e autênticas. Um exemplo são as aulas em laboratório, onde os alunos trabalham e são avaliados em grupo. Por intermédio das tecnologias, o ambiente criado por esta abordagem é referente ao Modelo de Educação a Distância de 3ª geração.
No modelo de aprendizagem colaborativa, há espaço para discussões, a aprendizagem é feita através da interacção pessoal ou social, com partilha de objectivos. Esta abordagem também pode ser referente ao Modelo de Educação a Distância de 3ª geração.
Conclusão
Tendo em conta os intervenientes (professor e estudante) e os aspectos referidos (tecnologias, interacção e ambiente) do modelo de Ensino a Distância de 2ª geração comparando com o modelo de Educação a Distância de 3ª geração, identifica-se a diferença nas relações entre eles, apesar dos elementos serem os mesmos.
Assim, no primeiro modelo (seguindo a orientação das setas do esquema 1), através das diferentes tecnologias o professor cria oportunidades de interacção, propiciando um ambiente adequado para que o estudante tenha acesso eficaz e utilize adequadamente as tecnologias para aprender. O professor ensina através das mesmas.
No segundo modelo, as tecnologias são um meio de professor e aluno interagirem criando ambiente de ensino-aprendizagem (educação), partilha de saberes, valores e atitudes.
Bibliografia
- Estrela, E., Soares, M. A., Leitão, M. J. (Setembro 2008) – Saber Escrever Uma Tese e Outros Textos – 6ª Edição. Alfragide: Publicações Dom Quixote;
- Moran, J.M. (2005). O que é a Educação a Distância;
- Pereira, A. (2009). As gerações de Ensino a Distância. Universidade Aberta; (slides disponibilizados pela UC);
- http://magiadaead.blogspot.com (acedido em 17 de Novembro de 2009);
- Mosaico (Inventário de conceitos, disponibilizado pela UC);
- J. Vermeersch (coord.). (2006). Iniciação ao Ensino a Distância, Brussel, Het Gemeenschasonderwijs;
- Morgado, L. (2001). O papel do professor em contextos de ensino online: Problemas e virtualidades, Discursos, III Série, nº especial, pp.125-138, Univ. Aberta;
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