Propostas formativas e sequências pedagógicas
Desenhar propostas formativas e organizar sequências pedagógicas
Para quem frequentou ou frequenta a Unidade Curricular Conceção e Desenvolvimento de Programas de Formação do 3º ano da Licenciatura em Educação da Universidade Aberta, sabe bem que um bom planeamento depende sempre de uma boa e intensa análise do como, quem, o quê, porquê e onde iremos dinamizar essa formação. Para que se desvende como tudo se processa, damos aqui o exemplo de como desenhar propostas formativas e organizar sequências pedagógicas.
Contextualização
Um exemplo de desenvolvimento de um programa de formação, tem como contexto escolhido a Cáritas de Portugal. Propõe-se que seja dada formação não formal de TIC e Internet, aos voluntários e aos beneficiários da Cáritas, tendo em conta os objetivos desta ONG referidos no N.º4 do art.º 1º, das orientações que a regem. Contar-se-ia com a diversidade dos formandos e a parceria de uma instituição de educação formal e do IEFP.
Parte A – Objetivos de formação
Depois de uma análise de diagnóstico adequada, procedemos à Fase II – Desenhar a proposta formativa, começando por agregar os objetivos de aprendizagem por domínios do saber. Estamos perante uma proposta de formação onde prevalecem os objetivos do domínio cognitivo (saber), mas onde estão bem presentes também os domínios afetivo (saber ser/estar) e psicomotor (saber fazer) (IQF, 2004: 105).
Após considerar as competências necessárias (não explicitadas aqui) para a procura ativa de emprego como inserção na sociedade atual (beneficiários da Cáritas) e para a ajuda a essa procura (voluntários da Cáritas), consideramos os seguintes objetivos de aprendizagem como proposta para esta formação:
1 – Identificar locais para procura de emprego
2 – Selecionar ofertas adequadas à situação do candidato
3 – Demonstrar atitude assertiva para a procura ativa de emprego
4 – Demonstrar interesse e conhecimento da importância da inserção sócio-profissional
5 – Sinalizar vários tipos de dificuldades na resposta a anúncios
6 – Responder a anúncios publicados nos vários locais possíveis
7 – Aceder à Internet como motor de busca de oferta de emprego
8 – Responder a anúncios via eletrónica, por correio ou telefone
9 – Comunicar oralmente e por escrito
10 – Elaborar currículo vitae e portefólio
Utilizando a matriz de apoio à estruturação de percursos itinerários exposta na tabela 1 (IQF, 2004:127), procedemos à organização da formação definindo que formas de organização utilizar (ambiente presencial, contexto real, a distância ou autoformação). Distribuiu-se também os objetivos de aprendizagem por dimensões do Saber, já em cima mencionadas, de modo a desenhar um itinerário de aprendizagem ajustado às características particulares do público destinatário e contexto já explicados.
Dimensões do Saber | Objetivos com maior focalização nos saberes cognitivos (SABER) | Objetivos com maior focalização nos saberes psicomotores (SABER FAZER) | Objetivos com maior focalização nos saberes sócio-afetivos (SABER SER) |
Formas de organizar a formação | |||
Ambiente Presencial· (em sala/prática simulada) | Obj. 1 Obj. 5 | ||
Contexto real de trabalho· (OJT) | Obj. 2 Obj. 9Obj. 10 | Obj. 6 Obj. 10 | |
A distância e/ou mediada pelas TIC | Obj. 7 Obj. 8 | ||
Autoformação | Obj. 3 Obj. 4 |
Tabela 1 – Matriz de apoio à estruturação do percurso itinerário da formação proposta
Parte B – Métodos e Técnicas Pedagógicas
Numa terceira fase, de organização das sequências pedagógicas, um dos processos feitos foi selecionar estratégias de aprendizagem adequadas aos formandos e aos contextos.
Os conteúdos, previamente definidos como essenciais são as TIC, anúncios de emprego, comunicação oral e escrita e resposta a anúncios. Os auxiliares serão o currículo vitae e os portefólios, atitude face à procura de emprego, interesse e conhecimento da importância da inserção sócio-profissional.
Tendo em conta estes conteúdos e as características iniciais dos formandos e respetivos contextos de partida, recolhidas aquando da aplicação do diagnóstico de necessidades, os métodos foram escolhidos também consoante os objetivos a alcançar.
O método afirmativo demonstrativo, como transmissão de saber-fazer, seria utilizado para atingir os objetivos 6, 7, 8 e 10, consistindo na exemplificação dos procedimentos para responder a anúncios, aceder à Internet, elaborar currículos e portefólios. Numa primeira fase será importante que os formandos assumam o papel de recetores dos saberes transmitidos pelo formador (IQF, 2004: 154) para que posteriormente consigam desenvolver essas competências. Este domínio de saber-fazer, psicomotor, é importante ser treinado para que o formando consiga realizar tarefas simples com as TIC, para proceder de forma eficaz aos processos intelectuais que serão veiculados por este domínio.
Inicialmente optámos por um contexto presencial, para que o formador e os formandos se conheçam para posteriormente prosseguirem para o contexto real e de contexto de autoformação.
Estes mesmos objetivos serão trabalhados, posteriormente ao método explicado, pelo método interrogativo indutivo, onde os formandos terão a oportunidade de experimentar os conhecimentos adquiridos, reforçando a memória e motivando para a descoberta (IQF, 2004: 146).
Depois destes objetivos atingidos, com este mesmo método, poderão ser trabalhados os objetivos 1, 2, 5 e 9, pois os formandos são levados a procurar respostas, estimulando o pensamento ativo, domínio do saber (idem). Com este método o domínio cognitivo poderá ser estimulado, pois está associado aos processos intelectuais, aquisição de conhecimento e de informação, compreensão, análise e resolução de problemas (idem: 105).
Os objetivos 3 e 4 poderão ser trabalhados através de métodos ativos, como Tempestade de ideias (Brainstorming), onde os formandos são levados a refletir sobre a sua intenção de procurar emprego e de se inserir sócio-profissionalmente, como domínio do saber ser (idem). Este domínio afetivo é assim desenvolvido pois está relacionado com atitudes pessoais, valores, emoções e sentimentos (idem: 105).
Esta escolha relativamente aos métodos é feita numa perspetiva de diversidade e adequação dos mesmos, enriquecendo a ação de formação a desenvolver e despertando nos formandos uma atitude de autocrítica e curiosidade intelectual. A sua aplicabilidade não é estanque, pois podem ser adaptados a situações imprevistas. Com os métodos mais práticos, os formandos terão oportunidade de apropriar os conhecimentos adquiridos. Com os métodos mais teóricos mas de igual envolvimento ativo dos formandos, terão oportunidade de desenvolver motivações e gosto pela reflexão (idem: 160).
Bibliografia e Webgrafia
- http://www.caritas.pt/site/nacional/, acedido em 19 de março de 2011;
- Instituto para a Qualidade na Formação (2004). Guia para a conceção de cursos e materiais pedagógicos. Lisboa: Instituto para a Qualidade na Formação.
Owner of Grow Talent
Técnica Superior de Educação e Formação