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Abandono escolar em E@D como militar
Os Projetos de Investigação devem seguir uma estrutura própria e standard, mas contextualizada à situação em estudo. A título de exemplo, partilhamos a primeira parte de um Projeto de Investigação feito no âmbito da unidade curricular de Seminário de Investigação da Universidade Aberta, Licenciatura em Educação Minor em Pedagogia Social e da Formação, que teve como tema em estudo o “Abandono escolar em EAD como militar”, mais especificamente no teatro de operações do Kosovo em 2009.
Questão de Investigação
Quais os motivos que levam ao abandono escolar dos militares do 1º Batalhão de Infantaria Mecanizado do Exército Português em missão no estrangeiro que frequentam o Centro Naval de Ensino a Distância?
Contextualização e justificação da investigação
Esta investigação, abandono escolar em EAD, surge da necessidade de os militares, colocados em unidades operacionais ou no estrangeiro, continuarem a sua formação escolar de forma compatível com as suas obrigações profissionais. Como o local de trabalho se encontra numa zona geográfica com horários escolares incompatíveis ou mesmo sem escolas, o EAD (Ensino a Distância) torna-se uma boa opção para a formação de adultos.
Desta forma, criou-se a oportunidade dos militares finalizarem o 12 º ano de escolaridade através do Centro Naval de Ensino a Distância (CNED), mesmo estando no estrangeiro (Kosovo), como é o caso do 1º Batalhão de Infantaria Mecanizado. Após a missão no estrangeiro terminar, os alunos têm a possibilidade de continuar nesta Instituição até terminar o secundário.
Depois de inscritos, e sabendo quais as vantagens em frequentar o CNED, há um número elevado de abandono escolar, como é referido acerca da década de 90, onde apenas 1/3 dos inscritos terminou o secundário com sucesso. Com base no documento do GEPE (Gabinete de Estatística e Planeamento da Educação), sabemos que apenas cerca de 19% dos adultos inscritos no ensino recorrente (equiparado ao CNED pelo glossário do mesmo documento) desde 1996/97 até 2007/08 concluíram o ensino secundário. Isto preocupa!
Uma das formas de potencializar esta formação de adultos, que se diz adequada a este contexto, é perceber quais as razões que levam ao abandono, razão que torna pertinente esta investigação.
Enquadramento teórico da investigação “Abandono escolar em EAD”
“Sabe-se que a formação a distância é () adequada quando o público-alvo reúne um conjunto particular de características, () a boa formação de base (académica e profissional) que lhe permita aprender sozinho, a capacidade de auto-motivação, a disciplina própria que lhe garanta a progressão na aprendizagem respeitando o seu próprio ritmo e o interesse particular (profissional ou de lazer) nas temáticas tratadas.” Será que é esta a situação destes militares?
Na impossibilidade de realizar entrevistas sobre o abandono escolar em EAD, registei alguns comentários em contexto informal dos alunos relativos a este estudo. Alguns exemplos “Desisti porque sinto falta de um professor que me explique.”, “Estou com dificuldades em estudar, é muito prático, o estudo não é apenas através da leitura.”, “Vou começar pelo Inglês, tem mais exercícios práticos. Se começasse por Filosofia não iria conseguir estudar, é muito teórico e abstrato.”, “Ninguém me envia mensagem nem contacta, se calhar mais vale esperar até conseguir ir para um ensino presencial.”. As razões apresentadas são várias e podem ter as mais variadas origens.
Com vista à construção de um quadro teórico adequado à investigação em curso, considero que vários autores convergem. Sobre a teoria construtivista, considero o papel fundamental da interação social entre aprendentes, com Vygotsky, que faz referência à importância do meio envolvente e contexto social. Feuerstein faz referência à importância da mediação, onde os professores têm papel crucial na orientação dos estudantes no processo de aprendizagem, vista como processo social que requer interação com mentores e pares.
A definição de adulto torna-se pertinente neste contexto pois a população inclui indivíduos com idades entre 20 e 30 anos. O adulto como estudante já tem objetivos bem determinados, claros e concretos, relacionados com a melhoria da categoria profissional ou com a autoestima e realização pessoal. A sua experiência resulta do sentido prático da vida que lhes permite participar ativamente nas atividades de aprendizagem. Partindo desta definição subjetiva, importa perceber as diferentes abordagens ao processo de aquisição de conhecimentos ou habilidades dos indivíduos da população considerada, para melhor compreender as razões de abandono.
Com base na Andragogia (ciências de orientar os adultos a aprender), e tendo em conta que é importante conhecer as características dos aprendentes, consideramos que os adultos são autónomos e autodirigidos, orientados por objetivos, centrados nos problemas, precisam saber porque estão a aprender algo e de uma abordagem pragmática, acumularam experiência de vida. A sua motivação passa por criar ou manter relações sociais, corresponder a expectativas externas, servir melhor os outros, desenvolvimento profissional, aprendizagem como escape ou busca de estímulo, e/ou por interesse puro. Alda Pereira converge para estas características quando defende que o EAD é adequado para adultos.
Temos como pressupostos que o adulto tem o auto conceito amadurecido, é menos dependente e mais auto dirigido. Já possui experiência de vida, fonte potencial de aprendizagem. Predisposto a aprender, se a aprendizagem for orientada para tarefas de natureza social. Motivados por abordagens centradas em resolução de problemas que podem ser aplicadas em curto prazo. E como possuem motivação intrínseca têm resposta menos positiva a estímulos externos. Alda Pereira considera estes pressupostos como controversos, pois dependem de muitos outros aspetos. A autora, bem como Petersen, referem ainda que a autonomia e a motivação devem ser tidas em conta aquando do estudo das razões que levam ao adulto abandonar a escola.
Todos os indivíduos têm estilos próprios de aprendizagem, ou seja, processos cognitivos preferidos (ou padrão), formas de armazenamento e recuperação de informação, perceção e resolução de problemas. Há várias abordagens sobre este especto, umas mais complexas que outras. Para esta investigação considerarei a escala de estilos de aprendizagem de Grasha-Riechamann, dimensão social dos processos cognitivos, referida por DePrick (Vermeersch, p. 13). Novamente Petersen, faz referência aos estilos de aprendizagem, organizando-os de forma diferente e tendo em conta modelos de vários autores, como Kolb, Honey & Mumford’s.
As taxas de desistências do EAD comprovam que é também importante considerar as experiências que este tipo de ensino proporciona aos adultos para que estes se mantenham motivados. Daí, são consideradas três partes que devem ser criadas e vividas, quer por alunos ou professores, de forma adequada: 1) antes do curso começar – aconselhamento, inscrição e aprender como ser estudante EAD; 2) durante o curso – interação com pares, professores/tutores e peritos; apoio técnico, moral, aprendizagem informal que potencia EAD, e avaliação; 3) após a conclusão do curso – integração útil com os conhecimentos pré-existentes. DePrick adianta ainda que uma boa experiência de aprendizagem requer riqueza sensorial, relevância, camadas múltiplas de informação, exploração pessoal não-linear, recompensas e surpresas. Nesta fase, conseguimos detetar já a convergência existente entre esta teoria e os comentários dos alunos que referi.
O conceito de distância transacional, de natureza pedagógica, emocional e psicológica poderá também explicar alguns casos de desistência. Compreender este conceito e perceber o que faz diminuir esta distância contribuiria certamente para a resolução da problemática apresentada. Para lidar com esta distância o aluno deve adquirir competências específicas, os materiais deveriam ser cuidadosamente desenhados e aperfeiçoados e o professor deveria orientar e apoiar o aprendente. Será que isto acontece no nosso objeto de investigação?
Também em contexto militar, mas com o título “As Características dos Aprendentes na Educação a Distância: Fatores de Motivação”, existe um estudo já feito de onde se pode retirar alguns aspetos para melhor estruturar esta investigação. Este estudo foca aspetos como: fatores que afetam os aprendentes, barreiras à aprendizagem, motivações dos aprendentes adultos para aprender. Destacam-se como fatores de maior importância: ajustar às necessidades familiares e ao horário de trabalho, desnecessidade de deslocar ao local, liberdade de escolher o que e quando estudar, interesse pessoal complementado com certificação de habilitações, as missões e exercícios militares, a transferência de local de trabalho a qualquer momento, o estar deslocado da residência, ascensão na carreira e exigência do serviço. Como se verifica, estas conclusões convergem para as teorias anteriormente mencionadas.
Com este enquadramento teórico da problemática, identifico os seguintes tópicos a explorar no âmbito desta investigação sobre o abandono escolar em EAD: interação com mentores e pares, diferentes abordagens ao processo de aquisição de conhecimentos ou habilidades, pressupostos do adulto como aluno, estilos próprios de aprendizagem, experiência de aprendizagem, distância transacional, fatores de maior importância para se tornarem alunos novamente.
Bibliografia
- Gabinete de Estatística e Planeamento da Educação (GEPE)/Ministério da Educação (2009) Educação em Números – Portugal 2009; Gabinete de Estatística e Planeamento da Educação (GEPE)/Ministério da Educação;
- Bell, Judith (Março de 2008) Como realizar um Projecto de Investigação; Lisboa: Gradiva;
- Pereira, A.; Miranda, B.(2003) Problemas e Projectos Educacionais. Universidade Aberta, Lisboa (Páginas 30 a 34; Ponto 3 – Revisão de Literatura);
- J. Vermeersch (coord.). (2006). Iniciação ao Ensino a Distância, Brussel, Het Gemeenschasonderwijs.
- Pinheiro, M. (Direcção Regional de Educação do Centro); Mendes, A. (Centro de Informática e Sistemas da Universidade de Coimbra); Contribuições para a construção de um curso EAD para adultos.
- Rurato, P. e Gouveia, L. e Gouveia, J. (2007). As características dos Aprendentes na Educação a Distância: Factores de Motivação. Revista da FCT. Nº 4, Universidade Fernando Pessoa, pp 80-92. ISSN: 166-0480.,
Autora da investigação “Abandono escolar em EAD como militar”