Adolescência e Juventude
Vamos tentar distingui-los
“Deste modo, quando no título desta apresentação se refere a terminabilidade da adolescência ou a ausência dela, referimo-nos a duas questões diferentes, mas complementares – a da terminabilidade de uma fase que, no sentido em que se encontra definida, cada vez mais se verifica estar a arrastar vida fora, mas também nos referimos à terminabilidade de um conceito com diversas limitações intrínsecas e que podem afectar a forma como os indivíduos a vivem e também a forma como outros, técnicos em particular, lidam com ela do ponto de vista conceptual e da intervenção.”
Material gentilmente cedido pelo projecto Sentidos e Sensações
“Há grande diversidade na adolescência e na juventude de hoje.
É mais correcto falarmos de “culturas juvenis”, para acentuarmos justamente que elas são muitas. Se quisermos encontrar um denominador comum dessas manifestações culturais, a cultura dos tempos livres é a que melhor caracteriza a juventude.
Os jovens de hoje têm uma consciência plena dos seus direitos. Sabem que podem lutar pelos seus problemas e não deixam que ninguém fale por eles.”
Entrevista com Daniel Sampaio
Monteiro, M., Ribeiro dos Santos, M. .Psicologia. Porto Editora, 200
Na tentativa de esclarecer os conceitos de “adolescência” e de “juventude” e sua relação, no âmbito das “problemáticas juvenis”, procedemos à análise dos excertos do texto “Adolescência terminável e interminável” e da entrevista com Daniel Sampaio.
Identificação das ideias centrais dos excertos
No primeiro excerto, o autor divide a adolescência como conceito e fase de vida. Como conceito, a concetualização não pode ser dada por terminada devido a “limitações intrínsecas”, que influenciam o momento histórico em que é vivido e a forma como é trabalhado o conceito e sua intervenção nas problemáticas. Como fase, os limites cronológicos não são estanques e definidos, pela evolução da sociedade e do próprio indivíduo. No excerto da entrevista a Sampaio, os conceitos de adolescência e juventude aparecem juntos. Defende a existência de “culturas juvenis”, no plural, onde o ponto comum é a existência de tempo livre, como exemplo. Vê os jovens como informados dos seus direitos de luta de valores e de expressão sobre os seus problemas.
Características que aproximam ou afastam a “adolescência” da “juventude”
Uma aproximação é a ambiguidade dos conceitos e por serem processos dinâmicos entre a infância e a idade adulta.
Braconnier e Marcelli (2000:XXI) explicam 3 fases de trabalho psíquico da adolescência: (1) espera; (2) mudança; (3) descoberta, fase em que também se aproxima do conceito de juventude, quando o período de rutura termina (varia por pessoa). O prolongamento da juventude (“interminável” do primeiro excerto), como processo com trajetórias até à vida adulta que apareceu na 2ª metade do séc. XX, dá-se quando a puberdade terminou, na adolescência, mas o indivíduo não tem completa autonomização funcional, emocional e económica (Almeida, 2008: 4). O que não declara o fim da fase, pelas novas formas de estar académicas, familiares e sociais, que varia por épocas, culturas, sociedades e aspectos económicos (Braconnier e Marcelli, 2000:42).
A adolescência afasta-se da juventude quando se traduz como processo de mudanças fisiológicas, psicológicas, sociais, sexuais e emocionais. Aberastury e Tubert (Almeida, 2008:3) reforçam com a ideia de abandono da condição infantil. Esta transição, com aspetos intelectuais, afetivos e culturais, quando o indivíduo se torna jovem (vários, por Almeida, 2008:pág. 2), traz novos papéis sociais e posições sobre o mundo nos diversos campos da vida.
Para Pais (1990:140,146), a juventude é uma categoria construída no contexto económico, social e político, sujeita a alterações influenciadas por poderes públicos. Para Bourdie, os jovens são uma “unidade social”, grupo de interesses comuns, referentes a uma faixa etária, fase da vida de construção social, que se aproxima do conceito de adolescência. A juventude será a fase onde o indivíduo já está à descoberta, o conflito interior e procura de identidade começaram na adolescência com o conflito do eu e com os outros. Os indicadores que marcam a juventude, como o direito a voto, a entrada no mercado de trabalho, acontecem depois da fase da adolescência. A juventude é marcada por instabilidade, tal como a adolescência, mas pelos problemas sociais, que penso serem o que afasta lentamente da adolescência.
Relação entre as expressões “problemáticas juvenis” e “culturas juvenis”
Segundo Sampaio (2001), as “problemáticas juvenis” passam pela diversidade na adolescência e na juventude. A consciência plena dos seus direitos como parte da sociedade que sabe dos problemas sociais, geram conflitos, lutando pelos seus próprios valores, modificando padrões de relacionamento. Este confronto entre as diferentes gerações que pensam de forma diferente é necessário para a evolução da sociedade, sendo as “culturas juvenis” ameaçadoras e vistas como geradoras de “problemáticas juvenis”, conforme a corrente geracional de Pais (1990:145,152). Pais (1990:163) define “cultura juvenil” como sistema de valores socialmente dominantes atribuídos à juventude. Percebemos que não há UM sistema de valores e UM género de conflito, mas vários. Segundo uma das tendências da sociologia da juventude (Pais, 1990:140) não há UMA cultura juvenil, mas várias em função das pertenças (classe, economia, etc.), que geram diferentes problemáticas. Pais (1990) também refere a própria juventude como problema social, pela dificuldade de entrada no mundo do trabalho, novas formas de pensar a família, grupos de amigos e vida académica, relações com a delinquência e participação na sociedade.
Para Braconnier e Marcelli (2000:44) a adolescência, conceito próximo de juventude, é um período privilegiado para expressão de comportamentos desviantes. Referem razões que penso ser uma boa percepção para a relação de “culturas juvenis” e “problemáticas juvenis”: fisiológicas, educativas, sociais, comerciais, tecnológicas, ecológicas, culturais, filogenéticas.
As “problemáticas juvenis” confrontam as formas de pensar e estar das culturas mais velhas, em qualquer contexto geográfico ou histórico, com impacto no modo de ver o mundo, na interacção com os outros e no posicionamento face a nós próprios e aos outros. A cultura juvenil, com todas as “subculturas,” está repleta de conflitos, quer sejam internos ou externos, os quais são motores de mudança, quer seja para a continuidade ou descontinuidade do que já existe.
Bibliografia
- Braconnier, Alain e Marcelli, Daniel (2000). As Mil Faces da Adolescência. Lisboa: Climepsi Editores.
Documentos disponibilizados pela UC:
- Almeida, Tiago (2008). Adolescência Em Perspectiva: Algumas Visões E Evolução Sobre Este Conceito;
- Adolescência terminável e interminável, Material gentilmente cedido pelo projeto Sentidos e Sensações;
- Pais, J.M. (1990) Análise Social vol. XXV – A construção sociológica da juventude – alguns contributos, 139-165;
- Entrevista com Daniel Sampaio, Monteiro, M.; Ribeiro dos Santos, M.. Psicologia. Porto Editora, 2001.
Técnica Superior de Educação e Formação