
Intervenção socioeducativa
Vamos perspectivar formas de intervenção socioeducativa em grupos problemáticos e desenvolver planos de intervenção psicopedagógica. Torna-se necessário começar por tentar definir o conceito de Intervenção Educativa. É em torno desta expressão que a teoria de Colocação de Andaimes (Scaffolding) e os postulados da compreensão compartilhada se debruçam. E é com base nestas teorias que tentaremos definir o conceito.
Scaffolding
Segundo a teoria de colocação de andaimes (Scaffolding), segundo o MEM, o adulto confere à criança certos componentes (gerais de reprodução de modelos ou padrões). São como andaimes do seu conhecimento e prática que lhe permitem dar apoio de modo a que a criança, gradualmente, cresça intelectualmente e atinja autonomia na resolução das atividades. Isto até esse mesmo apoio ser retirado por completo, momento em que se dá a apropriação dos novos conhecimentos. Para comparação, colocam-se andaimes para construir um teto que suportará outro andar de cima ou o telhado de imediato. Quando a estrutura está completa e autossegura, retiram-se os andaimes. Os componentes gerais para este processo acontecer são vários. O acolhimento da criança para a tarefa. A orientação da direção certa para o problema a resolver. Descodificação da tarefa. Exemplificação de soluções possíveis. E redução do apoio.
Compreensão compartilhada
Segundo os postulados assentes na compreensão compartilhada, de Edwards e Mercer (1988), a educação deve ser vista como o desenvolvimento da compreensão compartilhada de várias perspetivas. Com base num processo de comunicação, explorando novos modos de apresentação. Compartilhamento, controlo, discussão e compreensão do conhecimento, tanto por professores como por alunos. Pois o seu ponto comum é essa mesma comunicação. O comunicado e sabido pelo professor passa a ser sabido também pelo aluno.
Intervenção Educativa
Passando agora ao conceito de Intervenção Educativa, pensamos que as duas teorias se complementam e se explicam. É Intervenção pois o adulto age como suporte, ou andaime, do aluno (Scaffolding). E também como comunicador de determinados conhecimentos que serão compreendidos pelas crianças. E estas crianças também têm algo a ensinar aos adultos, numa compreensão compartilhada. É Educativa quando posta em prática no campo educacional. Quando um aprendiz e um professor se reúnem com o intuito de transmissão de conhecimentos por um lado e apropriação desse mesmo conhecimento por outro.
O conceito toma assim forma. Diz-se Intervenção Educativa quando há intenção de transmitir e apropriar conhecimentos. É necessário o transmissor ajudar inicialmente o aprendiz. Dando-lhe autonomia gradual, na perspetiva de compartilha de conteúdos escolares e pessoais. Para um melhor entendimento, melhor prática pedagógica e melhores aprendizagens significativas.
Indicadores do Pedagogo
Depois da tentativa de definir o conceito de Intervenção Educativa, importa perceber que indicadores operacionalizam as dimensões de ação do pedagogo. Tendo como base o Decreto-Lei n.º 240/2001 de 30 de agosto e o texto de António Nóvoa (2001). Procedemos à construção dos seguintes indicadores operacionalizantes das dimensões acima referidas:
Dimensões | Indicadores operacionalizantes |
Saber Ser/Estar (Atitudes e comportamentos)Participação na escola e de relação com a comunidade |
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Saber Saber(cognição na ação da intervenção educativa) Desenvolvimento profissional ao longo da vida |
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Saber Fazer(comportamentos durante a ação educativa) Desenvolvimento do ensino e da aprendizagem |
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Estes indicadores, não únicos e acabados. Fazem parte do perfil desejável de competências para um pedagogo. Sendo evidente que cada uma delas depende de outras competências e de cada uma das dimensões consideradas. Tal como na teoria da colocação de andaimes, o pedagogo tem uma postura de ajuda e cooperação. E promove participando numa compreensão compartilhada.
Contextos ambientais
Procedemos à descrição de dois contextos ambientais favoráveis ou desfavoráveis, cujas fotografias se encontram abaixo. Teremos em conta a organização do espaço, organização do grupo, materiais e formas de interação/comunicação.
fotografia 1
Nesta fotografia, com adolescentes, identificamos um espaço organizado tradicionalmente, que potencia a pedagogia centrada no professor, embora permitindo a participação e ocupação do espaço da frente por parte dos alunos (quadro). A comunicação é dinamizada a partir deste espaço, sendo este o pólo central e o centro da atividade didático-pedagógica. A organização do grupo é tendencialmente para uma pedagogia como transmissão de conhecimentos, sem materiais que auxiliem o desenvolvimento da aprendizagem.
fotografia 2
Nesta fotografia, numa formação de adultos, verificamos um número excedente de formandos direcionados para o pólo central da comunicação, o palco ou quadro. O formador expõe e os formandos ouvem essa exposição, sem qualquer mobilidade no espaço e na organização do grupo para intervir de forma a envolver-se no processo de ensino-aprendizagem. Não há qualquer material disponível que facilite a aprendizagem.
Ao contrário do perfil do pedagogo descrito anteriormente, estes cenários de intervenção educativa estão organizados para o método expositivo e não para o envolvimento dos alunos, favorecendo o trabalho individual e não cooperativo de compreensão compartilhada, com comunicação unidirecional. Tendo em conta o contexto de cada um, podemos considerá-los como contextos ambientais favoráveis na medida em que são uma oportunidade criada para públicos que noutras circunstâncias não teriam acesso à formação, e desfavoráveis a nível pedagógico-didático, pois o envolvimento dos alunos para uma aprendizagem significativa é dificultado pela organização do espaço e do grupo utilizada.
Bibliografia
- Nóvoa, António (2001). Eu pedagogo me confesso, Diálogos com Rui Grácio. Lisboa: Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade de Lisboa – disponibilizado pela UC;
- Movimento da Escola Moderna. A Orientação Sócio-Cultural do Modelo Pedagógico do MEM – disponibilizado pela UC;
- Oliveira-Formosinho, Júlia (2003). O Modelo Curricular do M.E.M. – Uma Gramática Pedagógica Para a Participação Guiada. In Escola Moderna N.º 18 – 5ª Série – disponibilizado pela UC;